Pode parecer piada, mas infelizmente é cada vez mais comum. Você deixa seu carro na rua e, em questões de minutos, bandidos levantam o veículo, tiram as rodas e deixam assim, como aparece na foto acima. Quando você volta, encontra o automóvel sobre macacos – ou, no pior dos casos, largado no chão. Esse tipo de furto vem crescendo no Brasil nos últimos anos, pela velocidade em que é feito e a facilidade para vender o “produto”.
É algo tão improvável que a primeira reação é dar risada pela situação. Poucos segundos depois, cai a ficha e você entende o quanto se deu mal. Como tem apenas um estepe, terá que chamar auxílio para conseguir tirar o carro de lá, principalmente se ele não estiver apoiado sobre algum objeto. Sim, objeto. Em alguns casos de furto de rodas, usam qualquer coisa para manter o veículo levantado enquanto realizam o “serviço”. O jornal O Dia relatou a história de um homem que apoiou seu alvo sobre um paralelepípedo.
Não ache que estou fazendo piadas com a desgraça alheia por dizer que rir é a primeira reação. Foi exatamente o que aconteceu comigo. Estava com um Nissan March emprestado para avaliação, tinha retirado o carro no mesmo dia. Deixei na rua enquanto esperava o outro carro da casa chegar, para facilitar a movimentação da garagem no dia seguinte. Rua movimentada por causa do posto de saúde, então fiquei tranquilo. O posto fechou às 19h e, dez minutos depois, o vigia da rua buzina para me avisar que viu duas pessoas tirando as rodas do compacto. Perceberam a aproximação do segurança e fugiram em uma VW Saveiro.
O resultado: O pequeno March ficou lá, com o lado do motorista encostado no chão, e as duas rodas do lado do passageiro intactas. Pouco depois, quando o representante do Nissan Way Assistance, serviço de assistência da marca, chegou, também deu aquela risada que mistura indignação com surpresa. “Os pilantras usaram um Jacaré”, afirmou, falando do macaco hidráulico usado em oficinais mecânicas e que erguem um veículo com muito mais facilidade.
Minha dor de cabeça serve bem para ilustrar esse tipo de furto. Não era um carro de mais de R$ 100 mil, era um March S, o segundo mais barato da linha, vendido por R$ 42.990. Os bandidos não ficam de olho só nas rodas de liga leve, pois o compacto japonês estava com rodas de 14” feitas de aço e com calotas. Aliás, acho que ainda quiseram tirar um sarro com a minha cara, pois deixaram as calotas e os parafusos embaixo do veículo.
E agora?
Perdi duas rodas, o carro foi retirado do chão pelo guincho e agora vem o custo para deixar o March de pé (sem trocadilhos). Cada roda original custa R$ 329. Coloque mais R$ 300 do pneu e R$ 40 pelo bico. Isso dá R$ 669 por conjunto. Duas rodas é um prejuízo de R$ 1.338. E tem mais R$ 100 de mão de obra. Desembolso R$ 1.438 para recuperar um furto realizado em poucos minutos e com uma facilidade assustadora. Novamente, estamos falando de rodas de aço de 14”, as mais simples do March. Perderia muito mais se fossem as de liga leve de 16” das versões mais caras.
Acredite, ainda tive sorte. Quando avisei a Nissan do ocorrido, disseram que não fui o único. Um jornalista de Porto Alegre teve o azar de encontrar o Versa que avaliava literalmente no chão, pois tiraram as quatro rodas. Outro, também de São Paulo, teve o estepe do Kicks furtado após o bandido quebrar o vidro para alcançar o item. Até um executivo da fabricante viu seu Sentra perder duas rodas para criminosos.
E para onde vão essas rodas? A resposta é bem simples, basta uma pesquisa em sites de leilões e vendas. Dezenas de anúncios, muitas garantindo que são originais e com fotos bem suspeitas, desde estoques meio malucos a rodas largadas no chão do quintal. Lucram fácil sobre a nossa perda. No caso do March, o preço médio das rodas era R$ 150 cada. Se procurar com cuidado, é possível encontrar por até R$ 80. Estranho que, no meu caso, terem deixado as calotas, já que são vendidas entre R$ 60 e R$ 100.
Não é só March, muito menos só Nissan. A internet está cheia de relatos envolvendo carros de outras marcas, não só no Brasil. No ano passado, uma gangue furtou as rodas de 48 modelos da Chevrolet em uma concessionária. Quem assistia o programa britânico Top Gear já ouviu piadas sobre furto de rodas no Reino Unido.
Como se não bastasse tudo isso, ainda há mais um problema. Muitos seguros não cobrem o furto de rodas, mesmo que sejam as originais de fábrica. E, se cobrem, irão obviamente pedir pelo Boletim de Ocorrência, o que pode ser mais uma dor de cabeça. Na hora de registrar o furto das rodas do March, a delegacia onde fui disse que eu precisava apresentar o documento original do carro (que havia sido entregue junto com o carro para a assistência). Me disseram para fazer um Boletim de Ocorrência Eletrônico, usando a opção de furto de carro, mas explicando nos detalhes que o veículo ficou e levaram só as rodas. Pouco depois, o escritório da Polícia Civil me liga, dizendo que devo fazer pessoalmente e que quem me atendeu só quis escapar do trabalho de preencher a documentação.
Evitando o crime
Esse tipo de ladrão, chamado pela polícia de carangueijo, sabe bem que tipo de carro é melhor para servir de alvo. Tomam cuidado para escolher exatamente os carros que usam parafusos comuns, ao invés dos parafusos anti-furto. Modelos mais caros com roda de liga leve costumam vir com essa fixação especial, que usa uma chave segredo específica para o conjunto de quatro parafusos, cada um posicionado em uma das rodas.
Normalmente, isso é o suficiente para assustar o ladrão e evitar o furto de rodas. Sem a chave especial, a ação fica muito mais difícil, embora alguns consigam burlar algumas marcas mais genéricas, que tem uma quantidade pequena de segredos. Algumas marcas usam parafusos com segredo iguais para todas as unidades, facilitando o trabalho dos bandidos. Pior ainda, pode ser semelhante ao de outras fabricantes. Já que não resolvem o crime e a proteção só dificulta um pouco o trabalho, a solução é a de sempre: Cuidado onde estaciona e torça para que nada aconteça.